terça-feira, 21 de maio de 2019

Dessalinizar água no Brasil é admitir fracasso

Há 80 anos investindo em gestão e tecnologia para abastecimento de água, Israel se tornou uma referência em uso eficiente e sustentável dos recursos hídricos. O país está localizado em uma das áreas habitadas mais secas do mundo, o que o obriga ao uso de técnicas caras como a dessalinização da água do mar. Essa tecnologia, por sinal, chegou a ser anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) para abastecer o semiárido nordestino.

Atualmente, a ideia parece ter saído do radar governamental. Mas a explicação pode estar na visão dos próprios israelenses sobre a técnica.

Diego Berger, coordenador de projetos internacionais da Mekorot (Companhia Nacional de Água de Israel), afirma que o Brasil não precisa dessa tecnologia, já que no nosso país há água suficiente. "O problema aqui é cultural, vocês têm uma cultura da abundância. E, quando você dessaliniza, você está reconhecendo o fracasso da gestão", diz.

Para ele, o problema brasileiro está no desperdício e na falta de uma melhor gestão. "Com gestão, acredito que vocês vão perceber que não precisam da última tecnologia [dessalinizar a água do mar]. Vocês precisam de uma tecnologia adequada para a realidade de vocês”.

Berger – que é argentino – explica que Israel reutiliza 85% do esgoto, que responde por metade da água usada para irrigação na agricultura. Diz também que as perdas no país hoje representam apenas 10% – no Brasil esse índice, em 2016, chegou a 38% da água potável, segundo relatório da Rede Brasil do Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas).

"Todo mundo vai em Israel para comprar tecnologia porque acha que tem solução rápida. A gente não está vendendo um programa, um software. Todas as políticas são de longo prazo. Você pode ir lá, comprar uma tecnologia e melhorar um pouco. Mas você tem de fazer a gestão, e isso é a longo prazo", diz.

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