quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

É necessário reduzir os juros para destravar os investimentos, diz Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quarta-feira, 15, que é necessário reduzir os juros para destravar os investimentos no Brasil. “Acho que, com 8% de taxa real ex-ante, é difícil navegar”, afirmou, durante evento do BTG Pactual.

As declarações vêm dois dias depois de o Diretório Nacional do PT, partido de Haddad, aprovar uma resolução que orienta as bancadas da sigla na Câmara e no Senado a convocar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para que preste esclarecimentos no Congresso sobre o nível da taxa Selic.

Durante a sua fala, Haddad afirmou considerar melhor “chamar a atenção” para os juros altos do que para as metas de inflação. Como mostrou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), a incerteza em torno do futuro das metas dominou as três reuniões feitas pelo BC com economistas do mercado esta semana.

“É melhor chamar atenção para isso do que para a meta, porque está todo mundo com meta de 3%, sabendo que não vai atingir. Ninguém cumpriu meta no mundo, ninguém cumpriu meta. Pega 2022, ninguém cumpriu. Quem mais se aproximou fomos nós, porque socamos a taxa de juros para lá”, disse o ministro.

Harmonização da política fiscal com a política monetária

O ministro da Fazenda disse que faz parte do seu trabalho harmonizar a política fiscal com a política monetária e construir a narrativa sobre o tema. “Esse jogo de construção de narrativa, de harmonização das políticas fiscais e monetária, de harmonização do discurso do Estado com a sociedade, isso faz parte do trabalho do Ministério da Fazenda, não faz parte do trabalho de um economista necessariamente”, afirmou.

Instantes antes, Haddad havia dito ser necessário compreender que o Brasil não vai levar a inflação de 6,0% para 3,0%, o centro da meta estabelecido para os anos de 2024 e 2025. Ele defendeu que há várias formas de se endereçar a política fiscal e monetária.

O ministro acrescentou considerar que a economia não se trata de uma ciência exata e afirmou que os principais macroeconomistas do mundo reconhecem que o arcabouço teórico é insuficiente para explicar a realidade hoje.

“Você não tem hoje um paradigma teórico que diz ‘olha, esse aqui é o que funciona’. Você tem várias ocorrências desafiando os teóricos”, afirmou o ministro, para quem é necessário “testar o terreno” de um “mundo novo”.

Déficit primário

O ministro da Fazenda disse ainda que o déficit primário do Brasil poderia ficar abaixo de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 caso os efeitos negativos da política monetária apertada não se manifestem este ano. “Se os efeitos deletérios desses 8% de juros real não se fizerem sentir fortemente este ano, coisa que duvido, fora Carf, fora tudo que eu reonerei, fora combustíveis, que a decisão será tomada este mês, fora tudo isso, nós estamos com déficit menor que 1%”, afirmou.

Durante participação no evento do BTG Pactual, Haddad disse que a tendência é de uma melhora progressiva das projeções para o cenário. Ele afirmou que, em janeiro, as receitas do governo já ficaram R$ 19 bilhões acima do previsto, contando R$ 6 bilhões em dividendos que deveriam ter sido pagos pela Petrobras.

O ministro disse que a situação do País é melhor hoje do que há um mês e que as expectativas do mercado estão contaminadas pelo ruído doméstico. “Eu sei que está, lamento que esteja e, mais do que lamentar que esteja, lamento ainda se a autoridade monetária se deixar levar por isso, não é esse o papel”, afirmou.

Haddad acrescentou que o Brasil está em situação favorável do ponto de vista geopolítico e é forte candidato a atrair investimentos, inclusive devido aos processos de nearshoring e à disponibilidade de energia limpa. “Se aproveitarmos a janela, nós podemos ter uma performance melhor do que a economia mundial”, disse.

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