sexta-feira, 10 de agosto de 2018

O vale-tudo dos partidos na disputa eleitoral


Nas coligações nos estados, falta coerência para justificar a construção de arranjos políticos sem a menor identidade ideológica pelos partidos

Por: Ulysses Gadêlha 

A formação das coligações regionais - a despeito do rigor ideológico com que os presidenciáveis são cobrados no debate nacional - tem adotado um critério mais flexível na formalização de alianças visando os cargos de governador, vice-governador e senadores. Um levantamento feito pela Folha de Pernambuco, tendo em conta a realidade das 27 federações brasileiras, encontrou discrepâncias que podem espantar o eleitor. O comportamento pragmático, em detrimento do conteúdo, evidencia uma espécie de “vale tudo” que contribui sensivelmente para a descrença do eleitor com a política tradicional. 

O Partido dos Trabalhadores (PT), por exemplo, celebrou aliança com siglas que apoiaram o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 15 estados. MDB, PSD, PTB, PR, PRB, Podemos, PSB, PPS, PSC, PV, Solidariedade, PEN, PMB, se não fecharam questão, contribuíram consideravelmente para a marca de 367 votos na Câmara dos Deputados, em abril de 2016, na votação que derrubou o mandato da ex-chefe do Executivo. Nesse sentido, a retórica do “golpe”, empunhada pelos petistas e partidos aliados, como PCdoB, não se fez valer na formação de alianças nos estados. 

Há casos, como o do Ceará, em que o PT está aliado com partidos que fizeram oposição aos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma. O governador Camilo Santana (PT) concorrerá à reeleição com o apoio do DEM e do PPS. Apoiado pelo PT, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), é outro exemplo de incongruência programática, já que tem no palanque o DEM, o PRB e o PR, adversários notáveis da centro-esquerda no plano nacional.

Pesa muito, por outro lado, a popularidade do ex-presidente Lula no Nordeste como razão para que muitos candidatos ao governo do Estado busquem a aliança com os petistas. Em Alagoas, PT e MDB estão juntos pela reeleição de Renan Filho. A aliança conta com a benção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que chegou a fazer agendas com o senador Renan Calheiros (MDB) e Renan Filho durante o período pré-eleitoral.

Pernambuco tem um episódio que chama atenção. Em 2014, os petistas apoiaram o senador Armando Monteiro Neto (PTB) ao Governo. Agora o governador Paulo Câmara (PSB) tem o senador Humberto Costa (PT) na sua chapa majoritária e terá o deputado federal Jarbas Vasconcelos (MDB) - um dos maiores opositores do PT - como o outro candidato ao Senado e ainda conta com o apoio de siglas como PSD, do deputado André de Paula - que também se opõe ao PT. 

A briga entre PT, PSB e PDT para consolidação do candidato que representa a centro-esquerda no plano nacional também gerou discrepâncias no plano regional. O candidato à presidência Ciro Gomes (PDT) trabalhou até o último minuto para ter o apoio do PSB, mas, num acordo com o PT, mas os socialistas optaram por liberar os estados, o que criou uma confusão nos palanques. 

No estado do Amapá, os petistas pretendiam apoiar o atual governador Waldéz Góes (PDT) à reeleição, mas, por determinação nacional, foram obrigados a apoiar o candidato do PSB, João Capiberibe. Também em Pernambuco, o PT tinha candidatura própria, com a vereadora Marília Arraes, e abriu mão do palanque para apoiar o governador Paulo Câmara, PSB. No Amazonas, o PT também está coligado com o PSB, na chapa de David Almeida (PSB) e ainda divide a chapa majoritária com Chico Preto (PMN), candidato ao Senado que é admirador do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

Em vários estados, os candidatos do PSB construíram coligações amplas, buscando reproduzir o modus operandi da Frente Popular praticada pelos ex-governadores Eduardo Campos e Miguel Arraes, o que resulta na construção de palanques sem critério ideológico. Renato Casagrande (PSB), no Espírito Santo, por exemplo, enverga um arco de alianças com 17 legendas lhe apoiando e, inclusive, abrigando siglas com discursos completamente opostos, como PSDB e PCdoB. Todavia, há situações em que o quadro regional repete o nacional. O palanque do candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, tem o apoio de DEM, PP, PR, PRB, SD, PTB, PSD e PPS. Curiosamente, em diversos estados, essas alianças se reproduzem, em coligações com o perfil de centro-direita, tal como ocorre no Acre, com Gladson Cameli (PP), e no Rio Grande do Sul, com Eduardo Leite (PSDB).

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