terça-feira, 19 de setembro de 2023

Bolsonarista com longa ficha policial criou ‘máfia do Pix’ em acampamento golpista

Rubem Abdalla Barroso Júnior dirigia seu Fiat Palio pela Orla do Santa Inês, em Macapá (AP), quando se deparou com uma barreira policial. Eram 3h e, embriagado, ele decidiu ignorar os apelos dos policiais.

Abdalla pegou a contramão da rua Maracá, desviando dos carros parados no acostamento, avançou o sinal vermelho e pegou a avenida Salgado Filho. A perseguição seguiu na via até que a polícia o alcançou.

O vendedor ambulante, nascido em Cuiabá (MT), recusou-se a fazer o bafômetro.

O policial Aldoney Nascimento, porém, relatou à Justiça que havia claros sinais de alteração da capacidade psicomotora de Abdalla: sonolência, olhos vermelhos, desordem das vestes, odor de álcool no hálito, exaltação, ironia e fala alterada.

O caso, de 2013, acabou em condenação. O cuiabano de sobrenome árabe acumulava prisões e antecedentes criminais. Estava fora da cadeia desde 2008, quando progrediu para o regime aberto, até ter as primeiras penas por furto extintas em 2011. Voltou ao sistema carcerário em 2018.

Já em novembro de 2022, aos 44 anos e com uma ficha extensa, Abdalla decidiu ir a Brasília para participar do acampamento golpista montado em frente ao Quartel-General do Exército.

De início, o plano era juntar-se aos milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que pediam às Forças Armadas um golpe contra a eleição de Lula (PT) —chamado por Abdalla de “ladrão”.

Ele, porém, viu no movimento golpista um possível negócio: o público do QG precisava se alimentar.

“Isso aqui vai tudo para a cozinha do Abdalla”, dizia trecho de áudio enviado em grupo de WhatsApp que reunia organizadores do acampamento. “Quem puder ajudar, tem Pix, dá pra levar a comida, água. Vamos pra cima.”

Junto do áudio, o contato salvo como Gabriel enviou uma foto das compras, com 120 garrafas de água, 24 litros de leite, 8 kg de mortadela e 15 pacotes de pão de forma.

Os primeiros 15 dias no acampamento diante do QG do Exército foram marcados pela fartura na comida. Empresas do agronegócio doavam carnes e material para fazer churrascos que atendiam gratuitamente a todos os bolsonaristas acampados.

Os atos em frente ao quartel de Brasília se iniciaram em 31 de outubro, dia seguinte à derrota de Jair Bolsonaro para Lula na disputa à Presidência da República. O que, à primeira vista, seria uma manifestação passageira acabou por tomar grandes proporções, com a instalação de tendas e barracas para que os bolsonaristas radicais permanecessem na área militar em prece por um golpe contra a democracia.

No feriado de Finados, em 2 de novembro, foi marcada a primeira grande manifestação em frente ao QG do Exército. Com a mobilização nas redes sociais, milhares de pessoas chegaram a Brasília em caravanas gratuitas para inflar os atos golpistas.

Em 7 de novembro de 2022, as primeiras costelas de boi foram fincadas no chão assim que o sol nasceu. A brasa ia lentamente cozinhando a carne, exposta para milhares de pessoas, em meio a barracas e tendas levantadas em frente ao quartel-general do Exército.

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