terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Redução de rombo nas contas públicas expõe Haddad a fogo amigo do PT

A promessa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de reduzir o rombo das contas do governo para 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 (R$ 100 bilhões) e zerar o déficit em meados de 2024 está por trás do ataque do PT à equipe econômica. O fogo amigo ganhou maior evidência com a bola da vez: a disputa política em torno da reoneração dos impostos federais sobre a gasolina, mas muito antes essa insatisfação já estava em ebulição e pôde ser observada nos grupos de WhatsApp de integrantes do partido.

Desde o anúncio do pacote fiscal pela equipe econômica, quando Haddad acenou com a reversão do déficit de R$ 231,5 bilhões para um superávit de R$ 11,1 bilhões, as críticas só vêm aumentando. Para a cúpula do PT e economistas ligados ao partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o risco de retração da atividade econômica, com a taxa Selic em 13,75% e uma crise de crédito à espreita, não há que se falar em reversão do déficit. Um compromisso assumido pelo ministro da Fazenda considerado equivocado pela ala política.

Na avaliação desse grupo, o ajuste fiscal tem de ser gradual, ao longo do mandato de Lula, após o novo governo conseguir a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, que aumentou os gastos em 2023. Nesse contexto, o foco principal é impedir a retração da economia e garantir um crescimento maior, que proporcionaria aumento da arrecadação e uma trajetória fiscal mais favorável. A visão é de que o governo pode conviver com déficits por mais tempo.

Com o pacote de ajuste, Haddad fez uma guinada de 180º nessa tendência, o que acabou melhorando a confiança do mercado na capacidade de o governo apresentar um novo arcabouço fiscal, mas desagregou o PT e ministros mais ideológicos do núcleo político. O ministro, na visão dos petistas, estaria se alinhado equivocadamente ao mercado e colocando a popularidade do presidente em risco, o que pode abrir espaço para a oposição da extrema direita.

Na esteira dessa pressão pública, que teve foco inicial no presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e se estendeu a Haddad, o governo anunciou o aumento do salário mínimo, a correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física, o novo Minha Casa, Minha Vida e anuncia em breve o programa de negociação de dívidas, o Desenrola. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, deixou claro a sua contrariedade ao se posicionar contra a reoneração dos combustíveis.

Guru

Os defensores do ajuste gradual têm agora como “guru” econômico André Lara Resende, um dos idealizadores do plano real e crítico feroz dos juros altos e da alegação de risco fiscal para manter a taxa Selic em 13,75% no Brasil. Para Lara Resende, o Brasil tem endividamento muito inferior a todos os países desenvolvidos, em linha com os países em desenvolvimento.

Inspiração para uma ala do PT que fustiga o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o economista André Lara Resende criticou, em artigo recente no jornal Valor Econômico, colegas e a imprensa por, segundo ele, “martelarem” o problema do déficit público e da insustentabilidade da dívida.

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