quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Presidente do Equador decreta estado de exceção



Do Jornal O Globo

Ao anunciar, na noite de segunda-feira, um estado de exceção para conter a violência no país, o presidente do Equador, Guillermo Lasso, lançou mão da instituição com maior credibilidade no Equador: as Forças Armadas. A medida, que foi bem recebida pela população em geral, no entanto, pode ser uma tentativa de conter o descontentamento social e político, que começa a crescer no país após uma série de reveses nos últimos meses, avaliam especialistas.

Além do aumento dramático da insegurança, nas ruas e nas prisões, Lasso vem tentando aprovar, sem sucesso, uma série de reformas na Assembleia Nacional, como a tributária. Além disso, precisa lidar com a pressão crescente nas ruas, após a convocação de protestos para os próximos dias contra o aumento de combustíveis. O estado de exceção também poderia ser usado como escudo caso as investigações referentes aos Pandora Papers compliquem os planos do presidente. Segundo as reportagens, Lasso chegou a controlar 14 sociedades offshore em paraísos fiscais, em sua maioria no Panamá.

— Lasso está tentando melhorar a sua imagem, seriamente afetada pela incapacidade de oferecer respostas adequadas aos problemas da população e agravada recentemente por causa do escândalo dos Pandora Papers. Embora os problemas de segurança que o país enfrenta sejam reais, trata-se de uma decisão política que visa controlar o crescente clima de insatisfação contra o governo e as mobilizações anunciadas por parte dos movimentos sociais — afirma María Villarreal, professora do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UniRio.

Katalina Barreiro, doutora em Ciências Políticas e professora do Centro de Relações Internacionais do Instituto de Altos Estudos Nacionais (IAEN), em Quito, também destaca a queda de popularidade abrupta do presidente: se nos primeiros 100 dias de governo os índices de aprovação de Lasso ultrapassavam a marca de 70%, chegaram a ter uma queda de quase 50 pontos percentuais na semana dos motins que deixaram ao menos 118 mortos em prisões em Guayaquil.

— A forte instabilidade política, a disputa com o Congresso, e toda a desconfiança gerada pela maneira como Lasso manejou os motins também estão por trás da decisão — diz Barreiro, explicando que as revelações dos Pandora Papers, no entanto, tiveram menor impacto junto à população. — As reportagens aumentaram as tensões políticas no Congresso, mas a crise de desemprego e o aumento dos combustíveis geraram muito mais mal-estar entre os equatorianos, porque afetam diretamente a população.

O cenário de violência no Equador de fato se agravou rapidamente nos últimos cinco anos — e piorou ainda mais na pandemia da Covid-19. No último ano, o aumento da pobreza, do desemprego e das desigualdades se refletiu no crescimento da presença e da força do crime organizado, na superlotação carcerária e nas disputas e lutas pelo poder entre facções. Com isso, o país, que sempre havia sido um ator marginal dentro do narcotráfico, transformou-se em um ponto de vital importância na rota do tráfico de drogas, com presença de grupos contratados principalmente por cartéis mexicanos, explica a professora do IAEN.

— Mortes violentas inexplicáveis, que não eram usuais no Equador, passaram a acontecer com cada vez mais frequência — diz. — Ao lançar mão do estado de exceção, Lasso tenta usar as Forças Armadas, entidade com maior credibilidade no Equador junto à população, para resolver o impasse.

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