quarta-feira, 3 de junho de 2020

José Múcio diz que Brasil vive crise da insensatez

Depois de um longo silêncio diante da mídia nacional, forçado por decisão própria, o presidente do Tribunal de Contas da União, José Múcio Monteiro, afirmou que o Brasil da crise da pandemia vive a maior das suas crises, a da insensatez. "Estamos vivendo a crise da insensatez. Precisamos ser mais duros, duros contra o vírus da corrupção, retroalimentado com essas compras públicas da Covid-19", afirmou.

A declaração foi dada pelo ministro durante live pelo Instagram deste blog. José Múcio condenou a falta de diálogo entre os poderes da República, o que tem contribuído, segundo ele, para dividir um País acometido por uma grave crise sanitária, política e econômica. "O País está dividido em quem pode fazer quarentena ou não. Muitos que não foram e os que foram para casa começam a se indignar com a falta de ar que pode ser entendida como falta de justiça", afirmou.

Para o presidente do TCU, chegou a hora de se rediscutir o País e isso tem que ser urgente. "Vamos precisar rediscutir o País, a sociedade, minorar as diferenças. Vamos precisar sermos mais humanos, porque esse vírus veio mostrar o quanto injusto nós somos", desabafou.

Sobre a ajuda dos R$ 600 que vem sendo dada pelo Governo aos que vivem do comércio informal, Múcio disse que ninguém pode querer tirar partido político dela. "Muitos ajudaram com os R$ 600, mas precisamos ser coadjuvantes e acabar de procurar heróis. Não é quem foi o herói, mas ir atrás de quem tem as soluções. Todos têm sua parcela de culpa e alguém precisa estender a mão. Não vai ter herói nisso", advertiu.

Para ele, está na hora de parar de pensar em eleição. "Está faltando humildade, solidariedade, temos que procurar uma agenda comum que não nos distancie. Está faltando uma agenda de solidariedade. Nós temos um problema político maior do que a pandemia. Temos que gostar da canção e não do cantor", assinalou.

Quanto aos extremos que se observam no País, Múcio disse que até a imprensa tem radicalizado. "Há uma radicalização de alguns setores da imprensa que têm seus interesses. O Brasil é maior do que isso. Não é concurso de quem é mais brabo. Sou favorável que todos se entendam para enfrentarmos o problema. Tem gente passando fome. Vai ter uma quantidade enorme de desempregados. Alguém vai precisar sustentar os que estão sentindo falta de ar, os desempregados pela tecnologia", destacou.

Perguntado se o País corre algum risco de ruptura institucional, o ministro foi cauteloso. "Peço a Deus que não haja uma ruptura institucional. Nós precisamos nos entender e saber o que queremos. Qual é nosso projeto de País”.

Contundente, o ministro advertiu: "Precisamos olhar mais para o horizonte e menos para o umbigo. Vamos ter um enfrentamento brutal após essa pandemia. Ou se muda ou vão mudar. Vivemos uma “bajulocracia”, quem não bajula não tem. Poucos municípios brasileiros são autossustentáveis.

Sobre o regime presidencialista, José Múcio disse ter sido adepto dele por influência de Marco Maciel. E assim se conceituou: "Me considero um separatista constitucional. Não podemos tratar as regiões brasileiras como se fossem iguais, senão vamos viver sempre com sopapos, democracias ameaçadas. Hoje, sou parlamentarista".

Sobre eleições, se posicionou contra prorrogação de mandatos. "Acho que podemos discutir eleições depois, em novembro, dezembro. Se os prefeitos reclamam que não têm dinheiro para pagar a folha, por que querem continuar os mandatos? Se está ruim, deve assumir quem perdeu". Ainda sobre o debate esquizofrênico que o Brasil vive, afirmou que o que se vê é um campeonato de brabeza, de colisão.

Por fim, Múcio falou do seu futuro após se aposentar do TCU, mas não confirmou se projeta retornar à política com a intenção de disputar o Governo de Pernambuco. "Eu não posso ter projeto político. Se eu disser que tenho, perco minha isenção. Estou conversando sobre antecipar minha saída do Tribunal porque acho que a corte precisa ter uma renovação. Já posso me aposentar. Tenho vontade de voltar e devolver aos meus filhos o tempo que devo a eles”.

Múcio falou ainda sobre os desvios dos recursos da Covid, inclusive em Pernambuco. “Eu tenho muito medo de quem aponta sem provar. É ladrão quem se aproveita do dinheiro público, quando quem faz isso é amigo a gente diz que é sabido, mas é ladrão. Precisamos ser mais duros. O vírus da corrupção foi retroalimentado com essas compras públicas", concluiu. (Com informações do Blog do Magno)

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