sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Coronavírus: fronteiras, portos e "fake news" preocupam governos

O Globo - Por André Souza

Os planos de contingência elaborados pelos estados para enfrentar o novo coronavírus no Brasil trazem, em linhas gerais, muitas orientações e cuidados já apregoados pelo Ministério da Saúde, como a necessidade de isolar casos suspeitos, mas também abordam algumas peculiaridades regionais.

O de Mato Grosso do Sul, por exemplo, trata da necessidade de cooperação com o Paraguai, país com o qual faz fronteira. O do Amazonas destaca a saúde dos índios que vivem no estado. Os planos de oito estados mencionam seus portos, que podem servir de porta de entrada para o vírus, como o de Santos, o maior do país, localizado no litoral paulista.

Até o momento, 25 estados repassaram seus planos para o Ministério da Saúde. Apenas Tocantins e o Distrito Federal não fizeram isso. No caso do Tocantins, O GLOBO teve acesso ao documento por meio da Secretaria de Saúde estadual. Os planos trazem medidas para evitar a entrada do vírus no país, identificar casos suspeitos e tratar pessoas doentes.

O novo coronavírus provoca febre e sintomas respiratórios, já tendo matado 1.369 pessoas, quase todas na China. O grande potencial de "fake news", ou seja, notícias falsas, preocupa a maioria dos estados. Eles querem evitar o pânico e eventuais reações contra quem vier a contrair o vírus.

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro destacou, por exemplo, que as informações sobre a doença devem ser divulgadas o mais rapidamente possível à sociedade "para, entre outras coisas, combater a desinformação e as perigosas fake news". Já o plano de Goiás fala da necessidade de monitorar redes sociais, como Twitter e Facebook, para "esclarecer rumores, boatos e informações equivocadas".

O de Mato Grosso, por sua vez, destaca: "Diante da sociedade em rede, que tem acesso instantâneo e quase ilimitado a dados e informações, além das 'Fake News', é essencial o estabelecimento de comunicação com os diversos públicos em tempo adequado para impedir ou mitigar danos desencadeados por 'notícias virais' que causem pânico ou direcione movimentos de massa na busca por assistência à saúde por temores infundados."

Dos 11 estados fronteiriços, apenas o Pará e o Paraná não fazem menção a cuidados a serem seguidos na divisa com outros países. Os planos dos demais recomendam que, nos pontos de passagem, situações suspeitas devem ser informadas à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que é um órgão federal, mas as medidas posteriores de atendimento serão tomadas pelas equipes de saúde locais.

Dos planos analisados, os de Mato Grosso do Sul, de Rondônia e do Amazonas são os que falam em cooperação com outros países. Entre as medidas em Mato Grosso do Sul estão a articulação com as cidades da fronteira, o preparo do hospital de uma delas — Ponta Porã — com a presença de um médico infectologista, e ações em conjunto com o Paraguai.

O de Rondônia menciona a cidade de Guajará-Mirim, na fronteira com a Bolívia, e a necessidade de uma articulação junto às autoridades do país vizinho.

O do Amazonas fala em "articular com as autoridades e órgãos de saúde na região da Tríplice Fronteira (Brasil, Colômbia e Peru)" e também com as de outros estados com os quais faz divisa. O estado também diz que é necessário ter cooperação com os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), ligados ao Ministério da Saúde, "para o fortalecimento de ações de vigilância e aprimoramento da detecção de possíveis casos suspeitos nos serviços de saúde".

Todos os 26 planos analisados lembram da importância de notificar as autoridades sanitárias municipais, estaduais e federais, em até 24 horas, todos os casos suspeitos que aparecerem. O plano do Distrito Federal, ao qual o GLOBO não teve acesso à íntegra, também faz essa recomendação.

No plano de contingência de Goiás, não há menção à base aérea de Anápolis, localizada no estado, onde ocorre a quarentena de 58 pessoas que passaram pela China. O de Roraima, embora cite a fronteira com a Venezuela, não prevê nenhuma ação específica voltada aos imigrantes do país vizinho, onde o sistema de saúde entrou em colapso e é fonte de preocupação como possível meio de entrada de doenças no Brasil.

Carnaval

Os planos do Rio de Janeiro e da Bahia não trazem ações específicas para o Carnaval, mas medidas que serão observadas tanto no período festivo como fora dele. No Rio de Janeiro, o plano aborda não apenas os hospitais estaduais e dos municípios, mas também os federais. O estado é onde há mais unidades de saúde mantidas pela União.

Os planos do Ceará, do Pará, da Paraíba, de Pernambuco, do Rio Grande do Norte, do Rio Grande do Sul, de Rondônia e de São Paulo mencinonam os portos localizados nesses estados. O de Pernambuco, por exemplo, destaca que os portos do Recife e de Suape já têm implementados planos de contingência para emergência em saúde pública.

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