sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Uma grife da advocacia brasileira



Por Roberto Marinho
O mundo jurídico brasileiro sofreu um profundo golpe com a morte do criminalista pernambucano Bráulio Lacerda, no último domingo. Vocação para o ofício deveria ser pré-requisito básico na banca acadêmica para se exercer qualquer profissão.
Vocação vem do berço, se contamina e brota pelo DNA. Quando assistia, ainda garoto, Bráulio Lacerda nos grandes embates de júri popular rasgando o verbo, soltando a sua voz aveludada como se cantasse feito sabiá, eu lembrava do meu avô, que dizia que os grandes homens já se perpetuam no ventre da mãe. 
Dava gosto ouvir as defesas ou acusações criminais de Bráulio Lacerda. Dentre tantos casos que se afamaram pelo Brasil com as suas digitais, registro sua atuação como advogado de acusação da família das adolescentes Maria Eduarda e Tarsila Gusmão, encontradas mortas no distrito de Camela, em Ipojuca, após participarem de festa em Serrambi, litoral sul do Estado.
Também defendeu o empresário Alisson Jerrar, condenado a oito anos de prisão por provocar um acidente de trânsito que matou a auxiliar de enfermagem Aurinete Gomes, em Boa Viagem. Em ambos os casos, emprestou seu talento com tanta devoção que viraram referência nacional.
Com 52 anos de experiência na advocacia, Bráulio Lacerda foi homenageado em 2017 pela Ordem dos advogados do Brasil, recebendo a medalha Joaquim Amazonas, honraria que só se arrebata por mérito e unanimidade entre os que julgam com rigoroso critério os homenageados.
Bráulio era sério, ético e competente. Um dos maiores tribunos do júri que vi atuar. Com ele se foi um pedaço da banda sadia do mundo criminalista. Com ele se foi um pedaço do seu filho Bruno Lacerda Filho, advogado tão bom quanto o pai, que honra as tradições daquilo que posso afirmar ter sido uma grife criminalista em território nacional.
Só me conforma, espiritualmente, em parte, o seu adeus, porque sou daqueles cristãos que se curvam ao preceito básico de que o dono do tempo é Deus, e como tal determina o nosso hoje e escreve o nosso amanhã. 
Sendo assim, não adianta apressar o passo. Tudo de melhor vem ao seu tempo. Deus nos ensina a esperar pelo seu tempo na certeza de que jamais seremos decepcionados, mas surpreendidos. E enquanto esperamos pela providência do senhor pela alma de Bráulio, vamos usando o silêncio em nossas orações, pois em nossa vida quem dá a última palavra é Deus.
* Roberto Marinho é consultor empresarial em Brasília

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